Falta de clareza organizacional: As perguntas que os líderes não fazem

Na sua organização, os líderes sentem abertura para fazerem perguntas, quando não sabem algo ou falta clareza?

Fiz essa pergunta há uns tempos a um líder amigo meu e a resposta foi:  “depende da pergunta, Denise. Se for uma pergunta que revele falta de preparo ou falta de leitura de contexto, é melhor não perguntar numa reunião, afinal ele é um líder, deve dar o exemplo!”. Surgia a minha primeira dúvida: Dar exemplo do quê? De que tem de ter resposta para tudo e clareza sobre tudo?? Então,  fiz-lhe uma segunda pergunta: “Como você faz, quando não sabe algo? Como faz para saber?”. E ele respondeu-me “honestamente, arranjo formas de saber, mas garantidamente não são em reuniões, ali tomo sempre muito cuidado com o que pergunto”. 😊

Na minha busca incessante e contínua pela humanização das organizações, pergunto-me para onde esta cultura do medo de se perguntar, pautada na crença irracional e exigente de que “se você é líder, pondere bem o que você pergunta e fala nas reuniões”, leva as organizações.

Sabemos  que há perguntas e perguntas, e algumas são de fato muito inapropriadas e fora de contexto. Sabemos também que é esperado de qualquer líder um posicionamento diferenciado e mais maduro em relação às discussões, e isso inclui a qualidade das perguntas. Até aí tudo bem. O problema são sempre os extremismos e a forma como a organização reage, quando um líder assume a sua ignorância, e faz uma pergunta, considerada básica ou “sem sentido”.  

Na era do “Life Long Learning”, em um mundo cada vez mais ambíguo, com tanta interconexão entre as variáveis, onde fica cada vez mais dificil julgarmos e tomarmos uma decisão assertiva, o “não saber” e o ato de perguntar, deveria ser encarado como algo natural e humano, inclusive nas lideranças.  Se à partida, incutimos o medo  das “perguntas fora de contexto” ou das “perguntas pouco inteligentes”, estamos limitando enormemente os líderes a olharem as coisas sob diferentes ângulos, e através das respostas, encontrarem soluções novas para os problemas. Pergunte a um CEO  quais foram as 3 perguntas às quais ele não soube a resposta na última semana, e garanto-lhe que ficará surpreendido a resposta dele.

Por isso, deixo aqui reflexões importantes para  os dois players dessa equação:

1. Para você,  líder que acredita que seus líderes devem pensar bem antes de perguntar algo, e ter resposta para quase tudo, lembre-se que, atrás de cada  pergunta”que a sua equipa não faz, ela está:

  • Criando “assumptions” – Assumindo premissas e realidades paralelas sobre os fatos reis, e, com isso, aumentando os “misunderstandings”, os erros de julgamento e tomada de decisão. 
  •  Perdendo a oportunidade de ampliar a sua visão sistémica e capacidade de julgament
  • Aumentando a falta de clareza  no entendimento da “big picture” e porquês das decisões
  • Repassando essa falta de clareza e o medo de perguntar para os níveis de baixo, ou seja, destruindo sua cultura.

 

Por isso, antes de se irritar com as perguntas do seu líder,: reflita: Por quê estou irritado com esta pergunta? Por que razão ele/ela está-me a perguntar isso? Qual parte da minha comunicação falhou, e que levou à falta de clareza por parte do meu líder? O que este meu líder precisa saber mais, para estar melhor enquadrado e melhorar a qualidade das perguntas no futuro?

Influenciar o teu chefe
E para você, lider que pergunta, lembre-se que para tudo na vida tem um jeito apropriado de se fazer, até as perguntas. Por isso, antes de perguntar: 
  • Entenda profundamente o contexto: Saiba exatamente o que você quer descobrir com a pergunta. Ter um objetivo claro ajuda a formular uma pergunta relevante e focada.
  • Obtenha algumas informações essenciais sobre o assunto antes de perguntar –  Isso ajuda a formular perguntas mais precisas e também a demonstrar que você não está totalmente às cegas no assunto.
  • Evite as perguntas superficiais: Em vez de perguntar sobre informações básicas que são facilmente acessíveis, vá mais fundo no tópico.
  • Use a técnica de perguntas abertas, que geralmente geram respostas mais ricas e detalhadas do que perguntas fechadas
  • Incorpore diferentes perspectivas: Pense em como diferentes grupos ou indivíduos podem ver o mesmo problema e considere os impactos de diferentes ângulos
  • Seja claro e específico: Use uma linguagem direta e evite ambiguidade. Perguntas bem formuladas são mais fáceis de entender e responder.
  • Atenção ao não verbal: O tom da sua pergunta deve ser humilde e com intenção genuína de compreender melhor. Isso incentiva uma resposta positiva e colaborativa.

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